Do outro lado

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16:09
Por Chocomalk

A vida não é algo muito fácil de entender, até ai isso não é nenhuma novidade. Nos meus 19 anos já vi e ouvi coisas interessantes e ao mesmo tempo absurdas, coisas repugnantes e ao mesmo tempo maravilhosas. Admito que não sou uma pessoa tão diferente dos jovens da minha idade, bom, eu não me sinto diferente. Trabalho em uma livraria e estudo para entrar em uma faculdade, onde o curso já faz dois anos que não consigo me decidir. Entretanto, não me importo de atrasar essa parte da vida. Nesses dois anos já morei em quatro cidades diferentes e nem moro com meus pais. Se isso é motivo para orgulho? Eu já não sei, não acho que seja lá grandes conquistas. Afinal, já vi pessoas com 19 anos e até mais novas ter coisas que talvez eu nunca consiga. Pode parecer um pouco pessimista a visão que tenho da minha vida como ela está hoje, mas isso por que citei apenas as coisas que me causam uma certa frustração no meu dia-a-dia. Existe coisas boas também, como o trabalho voluntário que participo quando posso. 


Algumas pessoas já me perguntaram por que faço trabalho voluntário... A resposta não é tão óbvia, já me peguei pensando no "por que" diversas vezes. Talvez para se redimir dos pecados cometidos, ou para compensar uma vida infame ou pelo simples motivo de gostar da sensação de ajudar uma pessoa. No meu caso, talvez um pouco dos três. Certo dia fui fazer um trabalho voluntário na casa de uma mulher, não a conhecia, não sabia absolutamente nada sobre ela, apenas que era uma mulher e que eu ia entregar uma cesta básica. Era um sábado de manhã que não conseguia se decidir se fazia sol ou se chovia. Minha irmã, meu cunhado e eu nos encontramos com uma amiga e fomos até lá. "Lá", seria um lugar relativamente longe comparado ao tamanho da cidade que moro atualmente, porém chegamos bem na hora que o céu resolveu soltar uma garoa para refrescar o calor que o sol tinha deixado de presente.

Entramos rapidamente na casa e nos acomodados no pequeno espaço que era considerado a sala. Basicamente, aquele lugar era composto por uma suíte, sala e cozinha, seguindo exatamente essa ordem. Sentei no sofá e no meu lado esquerdo tinha uma árvore de natal, entregamos as comidas e de presente minha amiga trouxe um pequeno presépio, porém era maior do que o que já estava acomodado na árvore natalina. Nunca vi alguém ficar tão feliz por algo tão pequeno assim, o sorriso daquela mulher era tão sincero quanto suas palavras de agradecimento. Eu não conseguia parar de observa-la igual todo mundo naquela sala. Com um pedaço de metal enfiado no lado direito do peito, agulhas e catéteres, mesmo assim ela ria e andava de um lado para o outro. Parecia feliz. 

No final da manhã, o que descobri sobre a desconhecida mulher é que ela era enfermeira e tinha uma doença rara, lutava para sobreviver com pouco recurso e pouca ajuda, mas com muita determinação . A situação dela estava feia e não pude evitar em pensar o quão era azarada e ao mesmo sortuda por ainda ter forças para viver. Bom, no final desses trabalhos voluntários sempre me sinto pior do que entrei. Tenho uma vontade enorme de chorar e dizer que serei uma pessoa melhor a parti de agora, mas isso parece soar meio patético. Também penso em como ajudar mais, o que eu poderia fazer, e assim milhões de ideias surgem na minha cabeça, porém infelizmente elas só permanecem como ideias. 

Voltando para minha rotina de estudar e trabalhar, logo tudo o que aconteceu naquela manhã se tornou uma memória, e a sensação de inutilidade passou também. As coisas fúteis voltaram a ter sua importância para mim e logo me peguei pensando num vestido que queria comprar. A facilidade que o ser humano tem de ignorar é impressionante, conseguimos ser tão passivos e vendar nossos olhos tão facilmente... Digo isso para mim mesma  e ainda não é motivo para eu me levantar e fazer algo diferente que todos os demais. A minha vontade, as vezes, é de sair na rua gritando, gritando minha opinião sobre a política, sobre a fome, pobreza e dizer que precisamos fazer algo. Então, lembro que se eu fizer isso poderia ser presa por pertubação pública ou simplesmente me julgarem louca e me ignorarem. 





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